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É preciso ter o preparo físico de um maratonista para acompanhar a rotina de um cadeirante ao ultrapassar os obstáculos encontrados nas calçadas de são Paulo. "A vida do cadeirante é olhar para baixo", resume o analista de sistemas Valdir Gonçalves, de 41 anos. Nesta quinta-feira, ele mostrou ao site de VEJA, na prática, os principais problemas que enfrenta para se locomover e realizar as atividades mais corriqueiras. "Para pessoas que não movimentam o tronco seria impossível andar pelas ruas de São Paulo porque isso exige muito esforço físico", conta.

O ponto de partida do trajeto foi a unidade do Sesc-Belenzinho, na Zona Leste da Capital, local que frequenta várias vezes durante a semana para praticar musculação e natação. "Em São Paulo você tem ilhas de acessibilidade", observa Valdir. "Um exemplo é a região da Paulista e centros culturais como o Sesc. Mas o grande problema é chegar até estes lugares". O desafio proposto era sair de uma dessas "ilhas" e enfrentar a "realidade": usando o metrô e as calçadas, ir até a região de Santa Efigênia, no Centro, para buscar o celular que Valdir havia deixado na assistência técnica.

O caminho até a estação Belém, apesar de curto, traz uma série de problemas, como calçadas inclinadas, que exigem grande esforço físico, pois sobrecarregam só um lado da cadeira. Em várias esquinas não há rampas e, quando existem, estão deterioradas, com buracos e desníveis. Outro problema frequente é o acúmulo de água na base das rampas, que impede a saída das cadeiras. Há também rampas improvisadas que, por não terem a largura necessária, podem travar as rodas das cadeiras e causar acidentes.

Não foram raras as vezes em que, por falta de alternativa, Valdir teve que trafegar pela rua, correndo o risco de ser atropelado. Na via que dá acesso à estação, por exemplo, teve que disputar espaço com os ônibus - não havia rampa para subir na calçada. "Geralmente, regiões com maior circulação de pessoas, perto de centros comerciais ou de alto poder aquisitivo recebem mais atenção da prefeitura", diz. "Mas quanto mais periférica a zona, pior a situação das calçadas".

Ao chegar ao Centro a situação é um pouco pior - e os buracos são mais frequentes. "A cadeira não é feita para passar por buracos", conta. "Já danifiquei outra cadeira por causa disso". A escassez de rampas o obriga mais uma vez a fazer boa parte do trajeto pela rua. Em um dos cruzamentos, a rampa está deslocada da faixa de pedestres e Valdir é obrigado a avançar sobre os carros parados no sinal.

Para o analista de sistemas, a preocupação com a acessibilidade não garante apenas a independência dos deficientes físicos, mas beneficia toda a população. "Rampas são utilizadas por idosos, mulheres grávidas ou pessoas que passaram por cirurgias. Todo mundo está sujeito a ter os movimentos limitados, mesmo que temporariamente".

Índice de acessibilidade - A dificuldade enfrentada por Valdir é a mesma de milhares de cadeirantes. Segundo o IBGE, mais de 45 milhões de brasileiros (23,9% da população) possuem algum tipo de deficiência física no Brasil - o órgão não especifica quantos são cadeirantes. Dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE revelam que o Brasil ainda carece de políticas públicas para garantir acessibilidade a quem usa cadeira de rodas, mesmo em locais com alto índice de urbanização e disponibilidade de serviços públicos.

De acordo com o estudo, nos municípios brasileiros, a maioria das faces de quadras (cada um dos lados da quadra, contendo ou não domicílios ou estabelecimentos) possui ruas pavimentadas (81,7%), dispõe de meio fio (77%) e oferece calçadas para circulação de pedestres (69%). Mas uma ínfima parcela (4,7%) possui rampas de acesso para cadeirantes. Esse índice sobe para 5,6% em locais onde há maior incidência de moradores com idade acima de 60 anos. A pesquisa, realizada de 1º de agosto a 30 de outubro de 2010 nas áreas urbanizadas dos 5.565 municípios brasileiros, apresenta um nível de detalhamento inédito, com foco em aspectos importantes da infraestrutura urbana, como questões referentes à circulação e o meio ambiente.

O índice de acessibilidade é baixo até nas cidades classificadas pelo IBGE como as que têm a melhor infraestrutura urbana. Nesses municípios, apenas 5,8% das faces de quadras possuem rampas de acesso para cadeirantes - mesmo que 80% delas possuam calçadas, 90% tenham vias pavimentadas e quase a totalidade (98%) disponham de ruas com iluminação pública. Nas cidades classificadas como "inadequadas", o percentual de incidência de rampas para cadeirantes no entorno dos domicílios é ínfimo: 0,2%.

A calçada ideal

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É preciso ter o preparo físico de um maratonista para acompanhar a rotina de um cadeirante ao ultrapassar os obstáculos encontrados nas calçadas de são Paulo. "A vida do cadeirante é olhar para baixo", resume o analista de sistemas Valdir Gonçalves, de 41 anos. Nesta quinta-feira, ele mostrou ao site de VEJA, na prática, os principais problemas que enfrenta para se locomover e realizar as atividades mais corriqueiras. "Para pessoas que não movimentam o tronco seria impossível andar pelas ruas de São Paulo porque isso exige muito esforço físico", conta.

O ponto de partida do trajeto foi a unidade do Sesc-Belenzinho, na Zona Leste da Capital, local que frequenta várias vezes durante a semana para praticar musculação e natação. "Em São Paulo você tem ilhas de acessibilidade", observa Valdir. "Um exemplo é a região da Paulista e centros culturais como o Sesc. Mas o grande problema é chegar até estes lugares". O desafio proposto era sair de uma dessas "ilhas" e enfrentar a "realidade": usando o metrô e as calçadas, ir até a região de Santa Efigênia, no Centro, para buscar o celular que Valdir havia deixado na assistência técnica.

O caminho até a estação Belém, apesar de curto, traz uma série de problemas, como calçadas inclinadas, que exigem grande esforço físico, pois sobrecarregam só um lado da cadeira. Em várias esquinas não há rampas e, quando existem, estão deterioradas, com buracos e desníveis. Outro problema frequente é o acúmulo de água na base das rampas, que impede a saída das cadeiras. Há também rampas improvisadas que, por não terem a largura necessária, podem travar as rodas das cadeiras e causar acidentes.

Não foram raras as vezes em que, por falta de alternativa, Valdir teve que trafegar pela rua, correndo o risco de ser atropelado. Na via que dá acesso à estação, por exemplo, teve que disputar espaço com os ônibus - não havia rampa para subir na calçada. "Geralmente, regiões com maior circulação de pessoas, perto de centros comerciais ou de alto poder aquisitivo recebem mais atenção da prefeitura", diz. "Mas quanto mais periférica a zona, pior a situação das calçadas".

Ao chegar ao Centro a situação é um pouco pior - e os buracos são mais frequentes. "A cadeira não é feita para passar por buracos", conta. "Já danifiquei outra cadeira por causa disso". A escassez de rampas o obriga mais uma vez a fazer boa parte do trajeto pela rua. Em um dos cruzamentos, a rampa está deslocada da faixa de pedestres e Valdir é obrigado a avançar sobre os carros parados no sinal.

Para o analista de sistemas, a preocupação com a acessibilidade não garante apenas a independência dos deficientes físicos, mas beneficia toda a população. "Rampas são utilizadas por idosos, mulheres grávidas ou pessoas que passaram por cirurgias. Todo mundo está sujeito a ter os movimentos limitados, mesmo que temporariamente".

Índice de acessibilidade - A dificuldade enfrentada por Valdir é a mesma de milhares de cadeirantes. Segundo o IBGE, mais de 45 milhões de brasileiros (23,9% da população) possuem algum tipo de deficiência física no Brasil - o órgão não especifica quantos são cadeirantes. Dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE revelam que o Brasil ainda carece de políticas públicas para garantir acessibilidade a quem usa cadeira de rodas, mesmo em locais com alto índice de urbanização e disponibilidade de serviços públicos.

De acordo com o estudo, nos municípios brasileiros, a maioria das faces de quadras (cada um dos lados da quadra, contendo ou não domicílios ou estabelecimentos) possui ruas pavimentadas (81,7%), dispõe de meio fio (77%) e oferece calçadas para circulação de pedestres (69%). Mas uma ínfima parcela (4,7%) possui rampas de acesso para cadeirantes. Esse índice sobe para 5,6% em locais onde há maior incidência de moradores com idade acima de 60 anos. A pesquisa, realizada de 1º de agosto a 30 de outubro de 2010 nas áreas urbanizadas dos 5.565 municípios brasileiros, apresenta um nível de detalhamento inédito, com foco em aspectos importantes da infraestrutura urbana, como questões referentes à circulação e o meio ambiente.

O índice de acessibilidade é baixo até nas cidades classificadas pelo IBGE como as que têm a melhor infraestrutura urbana. Nesses municípios, apenas 5,8% das faces de quadras possuem rampas de acesso para cadeirantes - mesmo que 80% delas possuam calçadas, 90% tenham vias pavimentadas e quase a totalidade (98%) disponham de ruas com iluminação pública. Nas cidades classificadas como "inadequadas", o percentual de incidência de rampas para cadeirantes no entorno dos domicílios é ínfimo: 0,2%.

A calçada ideal

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