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TURISMO ADAPTADO EM BH.


TURISMO ADAPTADO
FAZENDO A DIFERENÇA NA BUSCA PELA IGUALDADE
Nos últimos dias, Adriana Lage, uma cadeirante mineira, resolveu prestar mais atenção na acessibilidade em alguns lugares de Belo Horizonte. Em muitos deles, movimentar-se em uma cadeira de rodas é sempre uma aventura radical.

A Prefeitura de Belo Horizonte, juntamente com a Coordenadoria dos Direitos dos Deficientes, e outros órgãos, promoveram uma revitalização do centro da capital. As calçadas ganharam rebaixamento e sinalização tátil. Ainda não temos semáforos sonoros, mas as melhorias foram gritantes. Em 1997, fiz um curso de programação no centro. Era caótico andar pelas ruas. Além das calçadas não possuírem rebaixamento, eram cheias de camelôs. Era preciso pedir licença e contar com o bom senso – quase sempre em falta! – e boa vontade dos pedestres. O espaço para circulação da cadeira era tão reduzido que fui desviar de um cego e acabei atropelando a bengala dele. Minha mãe tinha que me empurrar, pelas ruas, dividindo espaço com os carros. Nos dias de chuva, então… caos total!!

Hoje em dia, o centro está muito mais acessível. Pena que em alguns lugares, como a esquina da Avenida Amazonas com a Rua São Paulo, as rampas não sigam a acessibilidade. Nesse lugar, a rampa é muito íngreme. Andar pelas calçadas ainda é um desafio. Por exemplo, no quarteirão das Lojas Americanas da Rua São Paulo, a calçada está esburacada há meses. Os buracos são enormes. A alternativa mais viável é dividir o asfalto com os carros e motos. Só que existem vários estacionamentos de motos. Infelizmente, os motoqueiros param em fila dupla e quase atropelam o cadeirante.

O principal problema que encontro no centro é a falta de educação dos pedestres. As pessoas sempre me atropelam. Outras vezes, entram na frente da cadeira de rodas, de uma hora para outra, sem dar tempo para o cadeirante evitar o atropelamento. Quando paro nos sinais para atravessar, sempre sou engolida pela multidão e levo várias bolsadas e cotoveladas. Muitas lojas da região central ainda possuem degraus na entrada. Em algumas galerias e restaurantes, o acesso é praticamente inviável para cadeirantes – inúmeros degraus em um espaço pequeno. Não cabe nenhuma pessoa ao lado da cadeira.

Pesquisei vários restaurantes na região da Praça Sete e só encontrei um com acesso facilitado. Existem escadas para o segundo andar, mas o cadeirante pode ficar no primeiro piso, onde temos as comidas, bebidas, os caixas e banheiros. Os demais possuem escadas na entrada e o local para circulação muito reduzido. Algumas vezes, para o cadeirante passar, é preciso tirar todo mundo do lugar, arrastar mesas, etc.

No Barro Preto, bairro famoso por ser o pólo da moda, já encontramos calçadas rebaixadas e rampas em algumas lojas. Vale ressaltar que ainda não encontrei nenhuma loja que venda roupas adaptadas/acessíveis em BH.

Na região da Avenida Silviano Brandão, considerada o pólo dos móveis, só encontrei uma calçada rebaixada na proximidade do supermercado. Nas demais esquinas, não vi nenhum rebaixamento, piso tátil ou sinal sonoro. A avenida é cheia de lojas de móveis e topa-tudo. Quase todos os estabelecimentos possuem degraus na entrada. Se uma loja de móveis já não é acessível na entrada, duvido que disponha de móveis adaptados. Vou reformar uma área da minha casa e, provavelmente, passarei longe da Silviano Brandão na hora de comprar móveis.

Antigamente, os degraus e escadarias eram utilizados para proteger tesouros como as Pirâmides do Egito, deixar os homens mais próximos dos deuses como na Grécia Antiga, afastar e dificultar o acesso de inimigos ou ostentar riqueza. Hoje em dia, todos esses significados perderam o sentido. Mesmo com o Decreto Lei 5296/2004, que estabeleceu as normas de acessibilidade, os degraus continuam impedindo que pessoas com dificuldade de locomoção realizem suas compras, se divirtam, estudem, etc. Quando estou em minha cadeira de rodas motorizada, nunca entro em estabelecimentos que possuem degraus. É extremamente desconfortável para mim e pesado para quem carrega a cadeira (70 kg só de cadeira!!).

Fiz uma pesquisa telefônica, bem informal, em 10 motéis da capital. Queria localizar um em que não precisasse subir escadas. Apenas em um deles, que fica próximo ao BH Shopping, a funcionária disse possuir acesso. Na verdade, o quarto não é adaptado, apenas possui portas largas e fica no nível do estacionamento. Nos outros nove, todos possuíam escadas e não tinham adaptações; Li uma matéria sobre isso na Revista Sentidos, se não me engano. Em uma pesquisa realizada, foram localizados apenas 6 motéis adaptados em todo Brasil, sendo dois em Uberlândia/MG. Um absurdo essa situação. Entrei em contato com o Ministério Público daqui e me disseram que a prioridade são as instituições de ensino, bares, restaurante e casas de espetáculos. Os demais estabelecimentos, tais como motéis, academias de ginástica e clínicas de fisioterapia, serão fiscalizadas na medida do possível.

Em várias igrejas católicas de BH, é possível trocar as escadarias da entrada por rampas nas laterais da igreja. Mas, desconheço igreja em que o cadeirante possa chegar até o altar. Um dia desses, fui fazer a Primeira Leitura e tive que ficar no meio do caminho. O microfone é que veio ao meu encontro. Fico me perguntando: e se uma cadeirante quiser se casar na igreja?? Se isso um dia acontecer comigo, vou querer tudo o que tenho direito: desfilar pela igreja, subir ao altar, etc… Acho que as Igrejas ainda são excludentes em relação aos deficientes. No ano passado, fui batizar minha afilhada em uma igreja no Maria Gorete. Achei muito interessante o momento da pia batismal. Além de ser emocionante o momento, fiquei encantada com o padre. Como eu não daria altura de carregar a neném, ele pegou uma bacia de metal que fica dentro da pia e colocou no meu colo e realizamos o batismo da mesma forma. Criatividade e boa vontade sempre superam obstáculos.

Gosto muito de passear na Avenida Silva Lobo. Dias atrás, fui a um Pet Shop comprar o enxoval para minha cachorrinha mais nova. Resolvi voltar pelo canteiro do meio, já que a avenida é muito movimentada e nas extremidades o passeio é irregular. Sem falar na ocupação indevida das mesas e clientes dos bares nas calçadas. No meio do caminho, me deparei com um vendedor de CDs piratas. A mercadoria estava espalhada pelo chão. Se eu tentasse passar com a cadeira motorizada, provavelmente, passaria por cima de alguns CDs. Pedi a ele, educadamente, que retirasse a primeira fileira de CDs para que eu pudesse passar. O vendedor criou caso e queria que eu passasse pela rua de todo jeito. Falei que não passaria, pois o degrau é altíssimo e a avenida é muito movimentada e perigosa. Com muito custo e muita má vontade, ele retirou a 1ª fileira, mas ficou falando que se eu estragasse qualquer coisa, teria que ressarci-lo. Quando passei, ele me disse que da próxima vez, me cobraria. Falei que aquilo não era lugar de colocar mercadoria e que, da próxima vez, caso ele criasse caso, voltaria com o fiscal da PBH. Fico indignada com esse tipo de gente. Pago para não brigar, mas se pisam no meu calo…

Há 3 anos freqüento uma academia próxima a minha casa. Ela é cheia de escadas, mas, ainda assim, é a mais viável para mim. Já conversei algumas vezes com o dono sobre acessibilidade. Ele sabe do problema, tem conhecimento que está errado, pois reformou a academia recentemente e não mexeu com acessibilidade. Já viu outros clientes reclamando, e não faz nada.

Esses são apenas alguns exemplos de como a capital mineira ainda precisa melhorar em matéria de acessibilidade. Infelizmente, o desrespeito ainda é grande. No meu dia a dia, sempre me deparo com escadas, calçadas e ruas esburacadas, preconceito velado, carros estacionados em vagas reservadas para deficientes ou estacionados nas rampas, etc.

Fonte: BH Legal

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TURISMO ADAPTADO EM BH.


TURISMO ADAPTADO
FAZENDO A DIFERENÇA NA BUSCA PELA IGUALDADE
Nos últimos dias, Adriana Lage, uma cadeirante mineira, resolveu prestar mais atenção na acessibilidade em alguns lugares de Belo Horizonte. Em muitos deles, movimentar-se em uma cadeira de rodas é sempre uma aventura radical.

A Prefeitura de Belo Horizonte, juntamente com a Coordenadoria dos Direitos dos Deficientes, e outros órgãos, promoveram uma revitalização do centro da capital. As calçadas ganharam rebaixamento e sinalização tátil. Ainda não temos semáforos sonoros, mas as melhorias foram gritantes. Em 1997, fiz um curso de programação no centro. Era caótico andar pelas ruas. Além das calçadas não possuírem rebaixamento, eram cheias de camelôs. Era preciso pedir licença e contar com o bom senso – quase sempre em falta! – e boa vontade dos pedestres. O espaço para circulação da cadeira era tão reduzido que fui desviar de um cego e acabei atropelando a bengala dele. Minha mãe tinha que me empurrar, pelas ruas, dividindo espaço com os carros. Nos dias de chuva, então… caos total!!

Hoje em dia, o centro está muito mais acessível. Pena que em alguns lugares, como a esquina da Avenida Amazonas com a Rua São Paulo, as rampas não sigam a acessibilidade. Nesse lugar, a rampa é muito íngreme. Andar pelas calçadas ainda é um desafio. Por exemplo, no quarteirão das Lojas Americanas da Rua São Paulo, a calçada está esburacada há meses. Os buracos são enormes. A alternativa mais viável é dividir o asfalto com os carros e motos. Só que existem vários estacionamentos de motos. Infelizmente, os motoqueiros param em fila dupla e quase atropelam o cadeirante.

O principal problema que encontro no centro é a falta de educação dos pedestres. As pessoas sempre me atropelam. Outras vezes, entram na frente da cadeira de rodas, de uma hora para outra, sem dar tempo para o cadeirante evitar o atropelamento. Quando paro nos sinais para atravessar, sempre sou engolida pela multidão e levo várias bolsadas e cotoveladas. Muitas lojas da região central ainda possuem degraus na entrada. Em algumas galerias e restaurantes, o acesso é praticamente inviável para cadeirantes – inúmeros degraus em um espaço pequeno. Não cabe nenhuma pessoa ao lado da cadeira.

Pesquisei vários restaurantes na região da Praça Sete e só encontrei um com acesso facilitado. Existem escadas para o segundo andar, mas o cadeirante pode ficar no primeiro piso, onde temos as comidas, bebidas, os caixas e banheiros. Os demais possuem escadas na entrada e o local para circulação muito reduzido. Algumas vezes, para o cadeirante passar, é preciso tirar todo mundo do lugar, arrastar mesas, etc.

No Barro Preto, bairro famoso por ser o pólo da moda, já encontramos calçadas rebaixadas e rampas em algumas lojas. Vale ressaltar que ainda não encontrei nenhuma loja que venda roupas adaptadas/acessíveis em BH.

Na região da Avenida Silviano Brandão, considerada o pólo dos móveis, só encontrei uma calçada rebaixada na proximidade do supermercado. Nas demais esquinas, não vi nenhum rebaixamento, piso tátil ou sinal sonoro. A avenida é cheia de lojas de móveis e topa-tudo. Quase todos os estabelecimentos possuem degraus na entrada. Se uma loja de móveis já não é acessível na entrada, duvido que disponha de móveis adaptados. Vou reformar uma área da minha casa e, provavelmente, passarei longe da Silviano Brandão na hora de comprar móveis.

Antigamente, os degraus e escadarias eram utilizados para proteger tesouros como as Pirâmides do Egito, deixar os homens mais próximos dos deuses como na Grécia Antiga, afastar e dificultar o acesso de inimigos ou ostentar riqueza. Hoje em dia, todos esses significados perderam o sentido. Mesmo com o Decreto Lei 5296/2004, que estabeleceu as normas de acessibilidade, os degraus continuam impedindo que pessoas com dificuldade de locomoção realizem suas compras, se divirtam, estudem, etc. Quando estou em minha cadeira de rodas motorizada, nunca entro em estabelecimentos que possuem degraus. É extremamente desconfortável para mim e pesado para quem carrega a cadeira (70 kg só de cadeira!!).

Fiz uma pesquisa telefônica, bem informal, em 10 motéis da capital. Queria localizar um em que não precisasse subir escadas. Apenas em um deles, que fica próximo ao BH Shopping, a funcionária disse possuir acesso. Na verdade, o quarto não é adaptado, apenas possui portas largas e fica no nível do estacionamento. Nos outros nove, todos possuíam escadas e não tinham adaptações; Li uma matéria sobre isso na Revista Sentidos, se não me engano. Em uma pesquisa realizada, foram localizados apenas 6 motéis adaptados em todo Brasil, sendo dois em Uberlândia/MG. Um absurdo essa situação. Entrei em contato com o Ministério Público daqui e me disseram que a prioridade são as instituições de ensino, bares, restaurante e casas de espetáculos. Os demais estabelecimentos, tais como motéis, academias de ginástica e clínicas de fisioterapia, serão fiscalizadas na medida do possível.

Em várias igrejas católicas de BH, é possível trocar as escadarias da entrada por rampas nas laterais da igreja. Mas, desconheço igreja em que o cadeirante possa chegar até o altar. Um dia desses, fui fazer a Primeira Leitura e tive que ficar no meio do caminho. O microfone é que veio ao meu encontro. Fico me perguntando: e se uma cadeirante quiser se casar na igreja?? Se isso um dia acontecer comigo, vou querer tudo o que tenho direito: desfilar pela igreja, subir ao altar, etc… Acho que as Igrejas ainda são excludentes em relação aos deficientes. No ano passado, fui batizar minha afilhada em uma igreja no Maria Gorete. Achei muito interessante o momento da pia batismal. Além de ser emocionante o momento, fiquei encantada com o padre. Como eu não daria altura de carregar a neném, ele pegou uma bacia de metal que fica dentro da pia e colocou no meu colo e realizamos o batismo da mesma forma. Criatividade e boa vontade sempre superam obstáculos.

Gosto muito de passear na Avenida Silva Lobo. Dias atrás, fui a um Pet Shop comprar o enxoval para minha cachorrinha mais nova. Resolvi voltar pelo canteiro do meio, já que a avenida é muito movimentada e nas extremidades o passeio é irregular. Sem falar na ocupação indevida das mesas e clientes dos bares nas calçadas. No meio do caminho, me deparei com um vendedor de CDs piratas. A mercadoria estava espalhada pelo chão. Se eu tentasse passar com a cadeira motorizada, provavelmente, passaria por cima de alguns CDs. Pedi a ele, educadamente, que retirasse a primeira fileira de CDs para que eu pudesse passar. O vendedor criou caso e queria que eu passasse pela rua de todo jeito. Falei que não passaria, pois o degrau é altíssimo e a avenida é muito movimentada e perigosa. Com muito custo e muita má vontade, ele retirou a 1ª fileira, mas ficou falando que se eu estragasse qualquer coisa, teria que ressarci-lo. Quando passei, ele me disse que da próxima vez, me cobraria. Falei que aquilo não era lugar de colocar mercadoria e que, da próxima vez, caso ele criasse caso, voltaria com o fiscal da PBH. Fico indignada com esse tipo de gente. Pago para não brigar, mas se pisam no meu calo…

Há 3 anos freqüento uma academia próxima a minha casa. Ela é cheia de escadas, mas, ainda assim, é a mais viável para mim. Já conversei algumas vezes com o dono sobre acessibilidade. Ele sabe do problema, tem conhecimento que está errado, pois reformou a academia recentemente e não mexeu com acessibilidade. Já viu outros clientes reclamando, e não faz nada.

Esses são apenas alguns exemplos de como a capital mineira ainda precisa melhorar em matéria de acessibilidade. Infelizmente, o desrespeito ainda é grande. No meu dia a dia, sempre me deparo com escadas, calçadas e ruas esburacadas, preconceito velado, carros estacionados em vagas reservadas para deficientes ou estacionados nas rampas, etc.

Fonte: BH Legal

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